quarta-feira, 8 de abril de 2009

Volto já.

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Este blog volta a funcionar (ou não) em breve.
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Não sei se vou continuar escrevendo aqui porque talvez já tenha entendido as coisas fundamentais que procurava entender no sm.
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Grande abraço a todos, obrigado pela paciência de terem lido até aqui. Depois eu decido se volto ou não, ando sem saco de pensar nisso no atual momento da minha vida. Valeu aí, pessoas.
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quinta-feira, 12 de março de 2009

A mulher biônica.


Do Marte:
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Vou postar um texto com o qual tenho divergências. O determinismo biológico é um campo perigoso, mesmo que seja fascinante. O que me despertou nesse texto foi uma leitura dos símbolos sexuais no próprio corpo feminino a partir de um argumento cientificista. Ou seja, o que me interessou não foi a tese, mas a engenharia da explicação do tal cara.
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Assim sendo, achei interessante postar. Não estejamos diante das "explicações biológicas" da origem do corpo desenvolvido da fêmea, mas na verdade diante dos símbolos sexuais culturais invadindo a ciência zoológica. Nesse sentido, não é o que esse sujeito afirma que realmente importa; mas o fato de ser possível gerar uma tese coerente que re-signifique a própria anatomia feminina.
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Ou seja, deterministas biológicos para papéis de gênero estão simplesmente usando linguagem científica para expressar suas próprias interpretações das sexualidades. Achei um exemplo clássico aqui, onde a ciência é usada para legitimar uma ideologia.
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E também gosto de mostrar como os símbolos de poder e sexo são transversais a qualquer ramo da ciência. A ciência não é neutra, pura e casta. A ciência é uma puta, ela está chafurdada em sexo.
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Talvez o autor acredite que gerou um novo conhecimento específico desse ramo da biologia; eu digo que ele apenas se rendeu as influências culturais a que esteve submetido desde sua infância. E claro, seu chamamento pessoal em fazer essa defesa.
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E é por isso que os argumentos dele parecem mesmo fazer sentido. São argumentos de poder sexual afinal de contas. Costumamos ser bem sensíveis a esse tipo de argumento específico.
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Repito: Não acredito em determinismo biológico para papéis de gênero. Mas que é interessante dar uma bisbilhotada no que esses caras andam escrevendo, ah isso é.
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Por Marcos Nogueira
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O inglês Desmond Morris trata as mulheres como animais. Isso não deve ser tomado por ofensa: ele é um zoólogo e estuda o primata Homo sapiens como mais uma espécie. A mais sofisticada das espécies, que fique claro - cujos indivíduos do sexo feminino são ainda superiores aos machos. Essa é a premissa de A Mulher Nua, livro mais recente do pesquisador. Nele, Morris examina o corpo feminino - literalmente da cabeça aos pés - para defender a tese de que a mulher é, em suas próprias palavras, "o mais extraordinário organismo existente no planeta".
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O autor - famoso pelo best seller O Macaco Nu, em que fez uma análise zoológica do animal humano - atribui o sucesso de nossa espécie a um processo evolucionário chamado neotenia. Ou seja: a manutenção de características infantis na idade adulta. Diferentemente dos outros animais, não paramos de brincar quando crescemos. "Adultos, os homens dão nomes diferentes a essa brincadeira: chamam-na de arte ou pesquisa, música ou poesia", afirma Morris.
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A neotenia se manifesta de formas diferentes no homem e na mulher. Enquanto ele é mais infantil no comportamento - conserva mais o elemento de risco da brincadeira -, ela incorpora mais características de criança ao corpo adulto. Assim, a fêmea seria anatomicamente mais evoluída que o macho.
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A vantagem de um corpinho de criança é clara. A evolução programou o macho para defender a prole - e, no mundo primitivo, a mulher infantilizada também era protegida. Assim, ela preservou a voz aguda, o rosto imberbe, as formas curvilíneas. Mas a neotenia é só uma das artimanhas evolutivas que moldaram o corpo feminino: vire a página para explorar cada pedacinho da mulher nua.
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CABELOS - Quanto mais finos os cabelos, mais femininos. Segundo Morris, a cabeleira delicada das mulheres é uma das reminiscências infantis que atraem os homens. Loiras têm os fios mais finos, seguidas pelas morenas e, por último, as ruivas. "Nesse sentido, as loiras são mais femininas", escreve o zoólogo, também responsável pelo negrito no verbo. Aí estaria a raiz da preferência masculina pelas platinadas - e do costume feminino de clarear os cabelos. A tintura não deixa os fios mais delgados, mas o efeito visual é o mesmo. E, no caso, parecer mais feminina já basta.
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NARIZ - A infantilização do corpo também explica, segundo Morris, a ocorrência de narizes pequenos nas mulheres - posto que bebês têm apenas um botãozinho no meio da face. Mas ela não seria a única razão. De acordo com o autor, o nariz humano (o único protuberante entre os grandes primatas) funciona como um ar-condicionado que fornece umidade e retém o pó da atmosfera. Nos tempos primitivos, os machos caçadores precisavam de um "aparelho" mais potente - portanto maior - para ter fôlego em suas expedições na savana poeirenta. As fêmeas, que ficavam em casa, desenvolveram menos o nariz. É claro que as dimensões variam de acordo com a linhagem genética. No Ocidente, são raras as mulheres narigudas que estão confortáveis com esse atributo - isso explica a grande ocorrência de cirurgias de redução de nariz.
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BOCHECHAS - A ausência de barba é um dos sinais mais visíveis da distinção de gênero entre humanos. Se a mulher nunca chega a ter um rosto peludo, é para manter a aparência de criança que precisa de proteção. "Simbolicamente, a bochecha é a parte mais suave de todo o corpo feminino", diz Desmond Morris. Segundo o autor, bochechas coradas remetem à idéia de virgindade. "A mulher que cora diante de um comentário de conotação sexual obviamente tem consciência de sua sexualidade, mas ainda preserva uma certa ignorância." Mulheres assim geralmente são jovens: eis por que a maquiagem facial muitas vezes carrega em tons rosados nas bochechas.
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LÁBIOS - No reino animal, os lábios humanos são os únicos curvados para fora. "Se observarmos atentamente a boca de um chimpanzé ou de um gorila, logo veremos que a superfície macia e brilhante fica escondida", afirma Morris. Nossos beiços não são apenas infantis, são embrionários: eles têm a forma dos lábios de um feto de chimpanzé de 16 semanas. Essa característica se mostra bastante útil para sugar o leite dos seios também exclusivos da fêmea humana. Num homem adulto, os lábios se tornam um pouco mais esticados e finos; mas a mulher, até chegar à velhice, mantém lábios carnudos e macios, prontos para serem beijados. A conotação sexual da boca vem de outros lábios femininos, os lábios vaginais: a semelhança está na forma, na textura e na coloração. E todos os lábios da mulher agem em uníssono quando vem a excitação: ficam mais túrgidos, mais rubros e mais sensíveis. As mulheres não demoraram para perceber essa relação e usá-la em seu favor - o primeiro esboço de um batom vermelho surgiu já entre as prostitutas do antigo Egito.
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PESCOÇO - O pescoço feminino é mais longo e delgado que o masculino - decorrência do tórax mais curto das mulheres e da compleição mais musculosa dos homens. De qualquer forma, pescoços esguios sempre foram interpretados como um sinal de feminilidade. Essa característica é levada a extremos em algumas sociedades tribais. As mulheres Padang, da Birmânia, esticam seus pescoços desde pequenas com aros de metal. São as chamadas mulheres-girafa, que na idade adulta chegam a ter 32 anéis, somando até 30 quilos, em pescoços que atingem inacreditáveis 40 cm de comprimento. Imagina-se que, se forem removidos os aros, um pescoço assim não conseguiria suportar o peso da cabeça. Até hoje, ninguém se arriscou a fazer isso.
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MÃOS - Aqui se encontra uma das maiores diferenças anatômicas entre os sexos. Enquanto as mãos dos homens são fortes, as das mulheres ganham em flexibilidade. Isso se traduz em maior habilidade para manipular objetos pequenos. "As mãos masculinas, embora capazes de grande precisão se comparadas às mãos de polegares curtos de outras espécies, não podem competir com as mãos delicadas, ágeis e frágeis da fêmea humana", afirma Morris. Mais uma vez, a bifurcação evolutiva tem origem na antiga divisão de tarefas: enquanto os machos caçavam e lutavam com suas mãos musculosas, as fêmeas se dedicavam à coleta de alimentos e a trabalhos decorativos, tarefas que exigem habilidade dos dedos. Então, por que a maioria dos grandes pianistas são homens? Para Morris, a resposta é óbvia: o teclado do piano foi desenhado para mãos masculinas. "Num teclado ligeiramente menor, mais adequado ao tamanho da mão feminina, a flexibilidade dos dedos faria as mulheres pianistas suplantarem facilmente os homens." Resta saber por que os fabricantes de instrumentos musicais ainda não inventaram tal coisa.
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SEIOS - Apesar de serem 2, os seios da mulher são únicos. Além de produzirem leite para a prole, despertam interesse erótico no homem. Isso não ocorre em nenhuma outra espécie - após o período da lactação, as tetas das fêmeas simplesmente desaparecem. Nas mulheres, não: as mamas até aumentam quando estão cheias de leite, mas continuam protuberantes mesmo quando não há nenhum bebê para alimentar. Na opinião de Morris, esses seios perenes são uma artimanha da evolução para estimular a procriação. Eles emulam os sinais sexuais emitidos pelas nádegas - algo oportuno para quem assumiu a postura ereta e é quase sempre vista de frente. "O par de falsas nádegas no peito permite continuar transmitindo o primitivo sinal sexual sem dar as costas ao interlocutor", diz o zoólogo. Não à toa, tanto os seios quanto as nádegas têm a forma de meia-esfera. Morris afirma ainda que essa função sexual dos seios pode ter prejudicado sua atribuição primária. "Os seios cresceram tanto em seu esforço para imitar as nádegas que ficou difícil para um bebê abocanhar um mamilo", diz.
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CINTURA - A razão por que homens são atraídos por fêmeas de cintura fina é tão simples quanto cruel: depois do primeiro parto, essa parte do corpo se expande irremediavelmente. "Mesmo que ela consiga, com um regime alimentar rigoroso, recuperar o corpo esbelto que tinha antes da gravidez, a cintura nunca vai ser tão fina", afirma Morris. Segundo ele, depois de vários partos, a circunferência da cintura da mulher aumenta de 15 a 20 cm. Portanto, uma cintura de pilão dá ao homem a impressão de estar diante de uma fêmea que ainda não desempenhou sua função de reprodutora - o que, em tempos primitivos, significava quase o mesmo que uma mulher virgem.
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QUADRIS - Quadris largos são uma das marcas mais características da silhueta feminina. O sinal biológico que eles transmitem, e que atrai os machos da espécie, é bastante claro: uma bacia ampla facilita a procriação. Mulheres de quadris grandes, então, são imediatamente relacionadas às noções de fecundidade e feminilidade.
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PÊLOS PÚBICOS - Fora a cabeça e as axilas, a região genital é a única parte do corpo feminino a ter cabelo abundante. Em primeiro lugar, os pêlos púbicos são um sinal visual. "Numa época primitiva em que os humanos andavam nus, eles devem ter funcionado como um sinal de que a menina havia se tornado uma mulher adulta", afirma Desmond Morris. O nascimento desses pêlos coincide com o início da ovulação - quando a fêmea é biologicamente capaz de procriar. Segundo Morris, "para o macho pré-histórico, a ausência de pêlos púbicos nas meninas era um aviso de que elas ainda eram jovens demais". Esses cabelos têm também a função de atrair o homem pelo odor. Não faz muito sentido num ambiente em que as pessoas usam roupas e tomam banhos diários, mas o tufo de pêlos ajuda a reter os feromônios - substâncias que supostamente despertam a libido - secretados por glândulas da região genital. Há ainda outro motivo para a zona púbica ser cabeluda: os tufos atuam como amortecedor do atrito em atos sexuais, digamos, vigorosos.
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GENITAIS - Comparada ao aparelho de nossos parentes mais próximos - os símios - a genitália da fêmea humana apresenta uma sensacional evolução: a capacidade de gerar prazer. Usemos como exemplo o coito entre 2 babuínos: o pênis entra e sai em média 6 vezes da vulva, numa performance que não costuma durar mais de 8 segundos. A macaca não tem tempo nem de pensar num orgasmo. Se a coisa é diferente na nossa espécie, isso não se deve apenas à extrema sensibilidade dos tecidos dos genitais femininos - algumas peculiaridades do pênis humano também ajudam. Macacos não conhecem o que chamamos de ereção: seus pênis são finos e sustentados por ossos. Já o aparato desossado dos homens fica pronto para o uso somente quando a excitação manda para lá um suprimento extra de sangue. Isso alonga o pênis, mas é o aumento do calibre que realmente faz a diferença. A pressão do pênis nas paredes internas da vagina provoca sensações de prazer e, à medida que a excitação cresce, crescem também os lábios vaginais e a sensibilidade de todo o aparelho genital. O clímax de tudo isso é o orgasmo. Bonito, não?
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BUNDA - Dentre todos os animais, os humanos são os únicos dotados de bunda. Isso porque também somos os únicos mamíferos a andar sobre 2 patas o tempo todo - os fortes músculos glúteos são essenciais para que possamos adotar essa postura. Em especial nas mulheres, as nádegas exercem também um forte apelo sexual. A bunda feminina difere da masculina em 3 pontos essenciais: é maior, mais empinada e rebola. Não é preciso dizer o quanto essas qualidades agradam ao homem. Não se sabe ao certo por que, mas Morris levanta uma hipótese: como nossos ancestrais andavam de 4 e sempre copulavam por trás, os sinais sexuais eram naturalmente emitidos pelo traseiro da fêmea. Quando assumimos a postura ereta e desenvolvemos os músculos glúteos, as formas arredondadas das nádegas substituíram esses sinais primitivos. "As mulheres com grandes traseiros enviavam fortes sinais sexuais, e com isso as nádegas iam crescendo", diz o autor. Segundo ele, as mulheres passaram a ter superbundas, gigantes a ponto de atrapalhar a cópula - o que teria propiciado o nascimento do coito frontal e o surgimento dos seios como sinal sexual alternativo na frente do corpo feminino.
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PERNAS - A atração dos homens por pernas femininas é tão grande que existem revistas especializadas em atender à demanda por esse tipo de fetiche. A principal razão disso é geométrica: ao olhar segmentos de pernas, um homem não consegue evitar imaginar o vértice, o ponto em que elas se encontram. "É quase como se, no recesso na mente do homem, o par de pernas funcionasse como uma flecha que indicasse a 'terra prometida'", afirma Desmond Morris. Pernas longas são particularmente queridas pelo imaginário masculino por serem um sinal de maturidade sexual: nas mulheres adultas os membros inferiores são, em comparação ao tronco, mais compridos que os das crianças.
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PÉS - Como não precisavam percorrer grandes distâncias atrás de caça na pré-história, as mulheres acabaram dotadas de pés menores que os dos homens - mesmo em relação ao seu próprio corpo. Assim, pés pequenos passaram a ser vistos como símbolos de feminilidade. Esse é o motivo de mulheres de comportamento masculinizado serem chamadas de "sapatão" e é também uma fonte de constrangimento para meninas que nascem com pés grandes. Para terem pés considerados femininos, as mulheres têm desde sempre se submetido a torturas. A mutilação de garotas chinesas, que tinham seus pés enfaixados na infância para que parassem de crescer, é só um extremo. Os sapatos estreitos e de salto alto - a elevação do calcanhar faz o pé parecer mais curto - estão aí para provar.

PARA SABER MAISA Mulher Nua - Um Estudo do Corpo Feminino, Desmond Morris, Globo, 2005 Publicado na Edição 215 - 07/2005 da SUPERINTERESSANTE

segunda-feira, 9 de março de 2009

Homenagem atrasada às mulheres.

Ontem não pude postar, mas mesmo uma homenagem atrasada é uma homenagem, não é mesmo?
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A todas as mulheres livres que procuram achar entre as armadilhas do patriarcado o verdadeiro sentido de suas sexualidades.
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A essas mulheres corajosas que são capazes de ver que...
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Há Machismo...

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E Chauvinismo...

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E Sexismo...

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E que há até Cinismo...
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Mas que em algum lugar lá fora há verdadeira Dominação Masculina.

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Uma homenagem a todas as mulheres que não possuem medo de sua sexualidade.
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Que não se deixam enganar por opressores travestidos de Donos.
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E que procuram um sentido maior naquilo que sentem no coração.
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E que são finalmente livres em suas coleiras.
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Feliz 08 de Março.
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sábado, 7 de março de 2009

Agradecimentos e links.

O blog ganhou, por indicação da {rianah} do Lestat, um sêlo criado por blogueiros. Fiquei honrado e aproveito para agradecer a minha boa amiga.
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Aproveito para indicar o blog dela (aí do lado) e da {ÍsisdoEgito}JZ que você acessa clicando aqui no nome dela.
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Tem uma regra de indicação de 8 blogs para o prêmio, mas eu realmente acho que não vou conseguir indicar ou decidir. Vou pular essa tarefa, se não tiver problema. E também vou pular listar oito qualidades minhas e essas coisas todas.
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Eu realmente não sei funcionar assim :)
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Ia me embananar, nas indicações e também na suposta lista de qualidades (que invariavelmente no meu caso seria uma lista de defeitos misturados).
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Mas eu adorei ter ganho o sêlo. Fiquei grato mesmo.
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Um grande abraço, amigas.
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Muito obrigado pela lembrança.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Crise econômica mundial.

Minha proposta para superação da crise mundial.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Liberdade de expressão submissa.

Uma vez decidida a trilhar voluntariamente um caminho de submissão uma mulher deve procurar aperfeiçoar-se a partir dos referenciais de seu Dono. Esse processo inclui aprendizado e adestramento, palavras que sempre usamos. A riqueza da interação da submissa é que vai gerar o resultado que se pretende "ensinar" ou "adestrar". Naturalmente não é apenas com seu Dono que a submissa aprende, nessa jornada. Ela deveria ler e fazer alguns amigos pra ter percepções referenciais de boas relações de submissão. Pra crescer na sua submissão. Pra entender mais e servir melhor, inclusive.
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O problema é que cada relação é de um jeito e cada pessoa é única, processos ricos e essa coisa toda. Mas gostaria de levantar como reflexão o recorte "Doms que não permitem que suas submissas tenham contato externo ou interação com discussões de opinião".
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Vejo muitas vezes confundida nossa autoridade Dominadora com supressão do pensamento e cassassão do direito da submissa a ser entendida como pessoa que também está em uma jornada de busca voluntária por felicidade. Ou seja, como um ser humano que tem suas demandas, mesmo que uma delas seja servir. Ou ainda; ela não se anula como ser humano por ter a demanda de servidão voluntária dentro de si.
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Durante o ano em que foi minha a natasha conversava e opinava no meio BDSMer livremente. Os resultados que colhi disso sempre foram os melhores possíveis e sempre tive gratas surpresas e grande orgulho do seu comportamento. Ela cresceu como submissa nessas interações, fez amizades, discutiu. E nunca me envergonhou ou me diminuiu em nada por isso. É evidente que respeito a maneira como os outros vivem e o tipo de limitações que impõem, dentro da negociação. Estou apenas dividindo que sempre foi a política que adotei e sempre foi ótimo.
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Isso é apenas um depoimento de que minha severidade nunca foi alterada pela suposta liberalidade de que minha sub tinha liberdade de dizer o que pensava abertamente e sem censura.
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Se um dia ela se comportasse mal eu lhe daria justo, merecido e justificado castigo. E ela ia entender porque é uma boa menina. Mas nunca aconteceu. Com isso eu tive ainda mais orgulho da minha obediente cadela. Pretendo ter orgulho de ver uma submissa minha discutindo abertamente com inteligência uma série de questões em comunidades, como prevejo ser bastante provável que aconteça. A sub é o espelho do Dono, costumamos dizer. Gosto que uma submissa saiba que é depositária da confiança de que não me envergonhará. Que ela tenha essa responsabilidade. A liberdade e o peso dessa liberdade.
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Você pode brincar de afogar sua putinha na privada da sua casa, mas você não pode deixar de entendê-la como um ser com uma busca legítima. O que há é uma relação entre dois seres humanos e entender que o outro tem demandas, expressões e expectativas é ser realista e justo. Isto posto o pau come.
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E se se comportar mal leva castigo brabo.
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Particularmente entendo como mau comportamento ser desatenta em relação ao empoderamento do Dono em qualquer interação com o meio, por exemplo. Deve falar livremente sem causar vergonha ao Dono, ser educada e gentil em contraponto a submissas que arrumam encrenca e fofocam. Manter um comportamento geral virtuoso, honrado, dirigido ao Dono no sentimento e intenção verdadeiras. Se eu tiver isto tudo, que sentido faria tentar controlar as interações e percepções que a submissa tem do meio? O direito do castigo é ainda a cereja do bolo das minhas garantias. E das suas, como Dom.
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Sendo assim é ótimo que ela interaja e opine, aprendendo e desenvolvendo sua submissão. Seu auto-conhecimento, sua busca de referenciais que a ajudem a servir melhor e melhor. É um orgulho ser servido fielmente por uma fêmea que seja exuberante na sua inteligência e ainda assim um brinquedinho de foder na sua mão mais forte.
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Isto é apenas para fazer pensar em relação a limitação de opiniões fora de sua relação bilateral com o Dono a que vejo honrados Doms submetendo suas peças. Outro bom argumento pra fazer pensar é senso comunitário: com a participação restringida todo meio BDSMer se empobrece. E o ponto é que rigidez proposta na relação de transferência de poder não é afetada porque você deixa sua sub participar e aprender mais. Pra te servir melhor.
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A restrição do direito da fala é um poderoso recurso de nossas práticas sexuais. A gente se diverte amordaçando uma mocinha, for sure. Mas isso tem mesmo a ver com fazer lobotomia em nossas submissas?
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Isso não envia um sinal a elas de que não confiamos de que são capazes de nos surpreender ou orgulhar com um comportamento exemplar?
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As melhores demonstrações de submissão que recebo são as voluntárias, que partem de alguma iniciativa livre da submissa. Esse é um bom exemplo de como liberdade concedida reforça a autoridade inicial concessora da liberdade.
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Deixem as borboletas voarem, rapaziada. Se fizeram um bom trabalho vocês vão ter orgulho do resultado.
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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

É Capuzinho Vermelho. Ela não usa chapéu.

Chapeuzinho Vermelho: Uma linguagem sedutora do jogo
Calina M. Fujimura (UERJ)

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"Este trabalho tem como objetivo estabelecer uma analogia entre a construção da narrativa do conto “Chapeuzinho Vermelho” e o jogo, nas versões dos camponeses, de Charles Perrault e dos Irmãos Grimm para o conto. Tal estudo, primeiramente, ganhará forma por meio de possíveis relações a serem traçadas entre o que é caracterizador à prática lúdica e ao movimento sedutor das personagens, visíveis no jogo simbólico e no grande embate que, no texto, tomará a forma de um diálogo.
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Conforme a noção de símbolo [1], estes se constituem em imagens pictóricas ou em palavras com a capacidade de substituir idéias, um sentimento ou um pensamento. Com o intuito de basear o estudo simbólico do conto “Chapeuzinho Vermelho”, será utilizado o Dicionário de símbolos, juntamente com as interpretações psicanalíticas de Erich Fromm e Bruno Bettelheim, para o conto em questão. (...)
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*[1] De acordo com o estudo de Jung sobre as raízes da simbologia presente nos contos de fadas e mitos, Nelly Novaes Coelho, em O conto de fadas, refere-se à existência de um “fundo psíquico comum e inconsciente” gerador de arquétipos, os quais dão origem a “impulsos psíquicos comuns a todos os homens”, ou a “imagens” capazes de tomar a forma semelhante de “emoções, fantasias, medos etc.” criadas por “fenômenos da natureza ou por experiências existenciais decisivas ( com a mãe, com as relações homem-mulher, com o confronto de forças desiguais ou injustiça etc.)”. (COELHO, 2003:116)*
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Nas três versões estudadas pode ser vista a figura do Lobo como metáfora do homem sedutor, de forma velada ou direta. Porém, o que de imediato não se pode perceber é o conteúdo simbólico contido em tal personagem. Recorrendo ao Dicionário de símbolos, diversos significados do símbolo “lobo” são encontrados. No entanto, um chama atenção para o dado contexto sedutor – o “lobo” como um símbolo devorador. O “lobo”, a partir desta interpretação, pode ser comparado a Cronos, Deus grego que devorava seus filhos. Cronos, assim, passa a ser confundido com Chronos – o tempo – mas um tempo que devora a juventude de homens e objetos. Fromm, em seu estudo A linguagem esquecida, ressalta a imagem devoradora do ato sexual tal qual Cronos devorava seus filhos e o tempo à vida, a relação sexual é encarada como o devorar da fêmea pelo macho. E é desta característica devoradora que se poderá compreender o significado simbólico do embate entre Chapeuzinho Vermelho e o Lobo.
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Relatada sua possível simbologia, pode-se agora entender quem é este jogador que deseja devorar. O Lobo de “Chapeuzinho Vermelho” é um jogador que não dá pistas das suas jogadas, como faz Chapeuzinho, ao contrário, ele as esconde atrás de sua falsa cordialidade. O Lobo pode ser representado pelo jogador trapaceador visto no texto de Duflo, malicioso, ele é o ator que fala e seduz detrás da máscara. Estas características do perfil do jogador ficam claras nas passagens em que o Lobo procura tirar vantagem, seja no caminho que leva à casa da avó, por suas palavras sedutoras que a convidam a deixar de ser tão séria, ou ao se disfarçar de avó para enganar Chapeuzinho.
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Se este jogador se oculta atrás da imagem de um Lobo cortês, porém faminto, o seu prato principal constará, justamente, da “inocente” menina, conhecida nas versões de Charles Perrault e na dos Irmãos Grimm como Chapeuzinho Vermelho. Perrault é quem dá à versão dos camponeses este nome à menina que passa a ser também título desta história. Este insere a figura do capuz vermelho que origina o nome “Chapeuzinho Vermelho” tão familiar aos leitores, e que torna mais sugestivas as intenções da menina. Nome que os Grimm mantém em sua narrativa, com um ligeiro acréscimo do chapéu ser de veludo.
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O capuz vermelho que acompanha a menina nas versões de Perrault e na dos Grimm, surge como símbolo da cor do sangue, da menstruação, cor da alma, da libido e do coração. A partir disto, tem-se a visão da relação simbólica entre o Lobo e Chapeuzinho. Ao ser observada a estreita ligação entre “lobo” e Chronos, pode-se entender que talvez este Lobo do conto seja o tempo devorador a destruir a fase menina de Chapeuzinho, já que nela se desperta a sua nova condição marcada pela menstruação e o desabrochar da libido; a juventude e os desejos amorosos passam a envolvê-la nesta transformação. Para Fromm, o simbolismo do capuz vermelho é muito sugestivo como observado em suas palavras: “O ‘chapeuzinho vermelho de veludo’ é um símbolo de menstruação. A menina de cujas aventuras nos falam tornou-se adulta e vê-se agora defrontada com o problema do sexo.” (FROMM, 1973: 175)
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Neste contexto do capuz vermelho, Bruno Bettelheim traz uma visão sobre a função da avó de Chapeuzinho, que à primeira vista, aparece sem muita importância dentro da narrativa. Para Bettelheim, a avó de Chapeuzinho transmite de forma inconsciente todo o seu conhecimento e experiência sexual na forma do capuz vermelho dado por ela, pois a cor deste, revela como significado simbólico oculto a pulsão dos impulsos sexuais presentes no ser humano. Como diz Bettelheim: (...) é fatal para a jovem a mulher mais velha abdicar de seus próprios atrativos para os homens e transferi-los para a filha, dando-lhe uma capa vermelha tão atraente.
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Em “Chapeuzinho Vermelho”, tanto no título como no nome da menina, enfatiza-se a cor vermelha, que ela usa declaradamente. O vermelho é a cor que significa as emoções violentas, incluindo as sexuais. O capuz de veludo vermelho que a avó dá para Chapeuzinho pode então ser encarado como o símbolo de uma transferência prematura da atração sexual (...). (BETTELHEIM, 2004: 209)
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Na versão dos camponeses a questão do capuz vermelho não é citada, encontra-se apenas a figura de uma menina que deixa sua casa para encontrar a avó. Então como a transferência da sexualidade é feita nesta história? Ao que tudo indica é também através da avó. Como o Lobo ao chegar à casa da avó não a devora e sim a mata, despejando seu sangue em uma garrafa e cortando seu corpo em fatias, quando Chapeuzinho finalmente chega ao seu destino já encontra o Lobo disfarçado de sua avó, recomendando que ela se servisse da carne e do vinho que estavam na copa. Servindo-se da carne e do vinho, um gato lá presente sentencia: “Comer da carne e beber do sangue de sua avó!” (DARNTON, 2001: 21e 22)
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Partindo do significado simbólico do gato como animal que carrega a sagacidade, engenhosidade e portador do dom da clarividência, tem-se adiantado o futuro de Chapeuzinho, nas palavras do gato, como “menina perdida”. Comendo as partes do corpo (a carne) e bebendo do sangue (o vinho) da avó, os símbolos ocultos de transferência de sexualidade passam a conotar a fragilidade da carne perante o pecado, dentre eles o impulso sexual incontrolável, e se vê no vinho um símbolo do conhecimento e de iniciação. Assim o ato canibal de Chapeuzinho é entendido como o tomar do conhecimento da avó, para iniciação sexual. Não se tem, desta forma, a passagem da sexualidade por meio do capuz vermelho, mas se pode tentar encontrá-la de forma encoberta nos seus símbolos.
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Para finalmente descobrir-se o perfil desta jogadora, deve-se primeiro observar as pistas deixadas por Chapeuzinho a fim de se entender o jogo velado desta “inocente” jogadora.
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Nas versões de Perrault e na dos Irmãos Grimm, Chapeuzinho ao indicar o caminho para casa de sua avó, praticamente se entrega ao Lobo. O Lobo que se apresenta na forma de um jogador astuto, vale-se das suas artimanhas para tomar o caminho mais curto ou adquirir certa vantagem na distração de Chapeuzinho. Será neste caminhar pela “estrada afora” que esta irá dar as pistas que se reunirão ao capuz vermelho para formar a grande interpretação simbólica do prenúncio do final deste jogo.
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Se a sexualidade é passada pela avó à Chapeuzinho através do capuz vermelho, a presença do desejo de deixar-se envolver por esse “lobo” pode também ser vista em alguns signos espalhados pelo breve período de distração pelo qual passa a personagem. Em Perrault, Chapeuzinho distrai-se colhendo as avelãs no bosque, símbolo da fertilidade e da luxúria, correndo atrás de borboletas, símbolo de metamorfose, e colhendo flores, símbolo da passividade. Conhecidos os símbolos, o entendimento deste percurso de passividade pode ser compreendido.
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O movimento passivo do jogar de Chapeuzinho só se mostra ao se perceber que ela se deixa seduzir pelas palavras do Lobo, tomando o caminho mais longo até à casa da avó por sugestão do Lobo. Suas intenções surgem ocultas detrás de símbolos como as avelãs que passam a reiterar a idéia do vermelho menstruação como sinal biológico de fertilidade, é a menina transformando-se em mulher em um processo de metamorfose, tal qual sofrem as borboletas.
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A mesma compreensão simbólica pode ser encontrada na história dos Grimm, em que este Lobo malicioso a convida a deixar de ser tão séria, e que Chapeuzinho, de maneira semelhante, aceita a proposta sem se lembrar da advertência dada por sua mãe, na qual pedia que Chapeuzinho andasse direito pelo caminho para não tropeçar e, deste modo, não cair quebrando a garrafa de vinho que levava para sua avó.
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Para Fromm, a advertência consiste em alertar a menina da possível perda de sua pureza, ao passo que quebrando a garrafa (símbolo da virgindade), e se desviando do caminho, Chapeuzinho poderia assim descobrir o que realmente há nos “cantos”, que não deveria ser revelado.
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Duflo, em seu trabalho, descreve a freqüência com que o jogo era praticado, referia-se a “uma sociedade do jogo”, em que este era muito comum apesar das proibições. No entanto, como diz Duflo “todo lugar onde o jogo é proibido, essa proibição é transgredida” (DUFLO, 1999: 47), consistindo em um instigador e gerador de um aumento no prazer dos jogadores, tal qual Chapeuzinho que burla a advertência dada e as regras de menina pura para ir ao encontro do Lobo. Mesmo tendo consciência do dever de visitar sua avó doente, Chapeuzinho aceita veladamente o jogo da figura sedutora masculina, para aos poucos deixar ser devorada por meio de uma simbologia que sussurra o aflorar do desejo sexual. Ter-se-á, desta forma, o grande embate agônico entre estes jogadores, que em um jogo de perguntas e respostas ditam o final desta partida.
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De acordo com Iser, em o “Jogo do texto”, tem-se a adoção do sentido figurativo do significante em detrimento do sentido real deste, com o intuito de gerar a característica ficcional do texto, o como se intencionando dizer o que foi dito. “Em Chapeuzinho Vermelho”, fica claro o jogo com a palavra a fim de fazê-la ter um significado primeiro superficial, no qual, no caso do Lobo, pode remeter, por exemplo, a uma perseguição, a uma caça, um animal atrás de sua presa – Chapeuzinho. Este Lobo, assim como os seus outros da selva, antes, rondam sua vítima, armam o seu bote para apanhá-la desprevenida, e cruelmente conseguem devorar rapidamente sua refeição. Mas um Lobo que se veste de avó, um Lobo conversando com Chapeuzinho, algo está estranho.
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Ao longo de todas as narrativas do conto, o jogo com o “significante fraturado”, ao qual se refere Iser, toma forma na figura do Lobo. O protótipo do Lobo é interessante à história por ele ser um devorador da natureza, um elemento conhecido dentro da vida dos camponeses da França do século XVIII. Como diz Iser: “O significante, portanto, denota algo mas, ao mesmo tempo, nega seu uso denotativo, sem que abandone o que designava na primeira instância”. (ISER, 1979: 110), assim como nas três versões trabalhadas, a dualidade do Lobo como lobo e deste como homem é de suma importância para a aproximação do homem com seu lado sexual “devorador” e “selvagem”. Como bem ressalta Vilém Flusser, em Da religiosidade, “(...) embora tenham os lenhadores exterminado o lobo, no curso dos últimos dez mil anos, nada tenha perdido o Lobo do seu terror primitivo” (FLUSSER, 2002: 165), de animal predador e da imagem sedutora apresentada ao longo do texto.
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Trilhando as pistas simbólicas deixadas por Chapeuzinho durante o seu jogo, o momento do duelo final é chegado; Lobo e Chapeuzinho encontram-se juntos em um mesmo tabuleiro, com táticas diferentes, mas com o fim já esperado.
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Em meio ao espanto, a “inocente” menina joga com suas constatações interessadas a respeito das diferenças que avista no corpo desta avó-lobo, no qual orelhas, olhos, mãos e boca se tornam tão grandes, e por fim vão moldando a forma de um corpo masculino bem mais imponente que o frágil porte da avó, aproximando, desta forma, as características do lobo as do homem. A versão dos camponeses traz além deste breve diálogo de reconhecimento do corpo masculino, uma prévia do que está por acontecer. Antes deste grande embate Chapeuzinho questiona ao Lobo o destino de suas roupas, e ao longo deste processo, o Lobo repete a mesma sentença: “– Jogue no fogo. Você não vai precisar mais dela.” (DARNTON, 2001: 21 e 22). O fogo como símbolo de iniciação, leva o leitor a entender o jogo do desejo masculino e a possível conseqüência das insinuações de Chapeuzinho.
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Assim, do lado inverso, o Lobo responde ao diálogo travado de uma maneira breve, seguindo os passos de sua oponente, e depois de respondida a finalidade daquela boca tão grande, não se tem mais respostas, pois neste momento, Chapeuzinho já tinha sido devorada. Em um diálogo que no nível do significante este denota a suposta morte de Chapeuzinho ao ser devorada pelo Lobo, dentro da idéia de “significante fraturado”, de Iser, este passa a carregar a concepção figurada do ato sexual.
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Dentro do diálogo travado entre Chapeuzinho e o Lobo, agon surge marcada fortemente como característica desta narrativa que estabelece sua moral através do castigo que Chapeuzinho sofre ao se descuidar “saindo do caminho” e sendo assim devorada. Segundo Iser, agon consiste em uma estratégia de jogo na qual o texto é centrado em normas e valores conflitivos, sendo que este debate busca envolver “uma decisão a ser tomada pelo leitor em relação a estes valores contrários, que se mostram internamente em colisão” (ISER, 1979: 113). O conflito entre norma e desejo aparecem como forma de reflexão ao leitor em “Chapeuzinho Vermelho”, a moral de não se desviar do caminho às meninas é clara no texto, assim como a punição de Chapeuzinho por sua escolha é dada quando o Lobo a devora, é um processo em que o leitor é levado a questionar-se, automaticamente, a respeito de suas decisões impulsivas e das ordens.
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A atração pela figura masculina e a curiosidade em conhecê-la impelem Chapeuzinho a aceitar a partida proposta pelo Lobo, mesmo sabendo que sua derrota seria necessária para sua vitória. O Lobo a devorou jogando de acordo com as cartas que ao longo do texto por ela foram dadas. O diálogo que antecede o final apenas representa o ápice destes elementos simbólicos que se sucederam na história, realmente, vê-se que o fim estava mesmo no começo, como disse Beckett. Pode-se dizer que tanto Chapeuzinho como o Lobo venceram a partida: uma foi devorada, tal qual tinha sugerido desejar, e o outro devorou, como ditava sua “fome”. Empatou."
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Moral da história: O caçador é a figura da culpa cristã. Além de ser crime ambiental atirar em lobos.
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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Desenhos bem animados.

Das expressões da arte erótica gosto, entre muitas coisas, dos desenhos. A grande sacada é falar de um tema adulto e para adultos, mas utilizando uma linguagem infantil. O quadrinho adulto é o subproduto maduro do que a geração do meu pai descobriu ainda jovem com Carlos Zéfiro.
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Existe muita coisa boa na arte erótica dos desenhos, muitos trabalhos de qualidade e grandes artistas. Mas hoje eu vou postar puro pornô de consumo japonês. Arte sem refinamento, pras massas punheteiras. É tão legal quanto.
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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Sobre Disciplina.


Quanto mais eu construo uma crença libertária compatível com minha sexualidade, mais severo me torno como Dono. Se todo desejo é uma perversão de um valor nobre, quanto mais liberto você é; mais perverso você será caso se permita.
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Nunca fui tão exigente em relação a disciplina como tenho sentido necessidade de ser. Comigo mesmo e em relação a qualquer pessoa com a qual venha a me relacionar. Isso é um sinal inegável de alguma espécie de procura fina, já não me servem as belezas indomadas, as que não se curvam. Eu só vejo riqueza no que posso investigar a meu modo. Decifrar e devorar. No que me é dado voluntariamente e com mansidão. Perdi o interesse em disputar palmo a palmo essas confianças; ou elas são dadas ou não são. No fundo é assim que funciona.
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Uma vez entendidos os limites de cada um não pode haver fricção acerca dos papéis; porque essas disputas destroém a beleza da cooperação todinha. Quem dá poder a seu Dono é você, no final das contas.
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As pessoas acham que pervertidos são caras que se excitam com qualquer coisa. Sacanagem com os pervertidos. Na verdade é o contrário, pervertidos precisam de estímulos tão específicos e incomuns para se excitarem que sua sexualidade é muito menos abrangente e muito mais profunda que a de pessoas médias. Portanto a maneira de nos atingir tem que ser profunda, não generalizante. E assim, de nossa parte, respondemos com profundidade. E as coisas funcionam.
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Disciplina tem a ver com a profundidade da entrega. Com o sentido do ato de ver-se disciplinada, psicológica ou físicamente, muito mais do que com o ato físico propriamente. A disciplina é a prova de submissão voluntária.
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A aceitação da violação se materializa na disciplina. E a disciplina é a oportunidade da submissa demonstrar uma série de coisas a seu Dono; profundas, sobre o tamanho da sua entrega.
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Se há aceitação emocional da figura violadora pra além da aceitação sexual; isso é como dizer eu te amo na literatura do Marquês de Sade. A beleza disso é única e só quem já viveu momentos assim sabe.
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Disciplina é muito mais que obediência. E muito melhor.
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