terça-feira, 11 de novembro de 2008

O sagrado da penetração.


A penetração sempre esteve envolta em gigantescos simbolismos sagrados. Ao mesmo tempo, é ato profano, carregada de significados. O que significa foder alguém?

Há, no aspecto sagrado, toda a carga simbólica reprodutória. São inúmeros os cultos e rituais que valem-se da penetração como instrumento de ligação com a espiritualidade ou celebração da natureza. Simboliza o entrelaçamento do feminino e do masculino e a possibilidade de geração da vida.

Raciocinando binariamente, poderíamos dizer que a penetração na outra ponta significa invasão, violação ou imposição. No que há de mais sexualizado para a maioria de nós, penetrar significa tomar a fêmea para si, e ser penetrada é estar tomada por um macho, no sentido biológico.

Carregamos poderosas cargas culturais internalizadas a este ato. Quer queiramos ou não.

É por isso que você nunca gosta quando "está fodido" em alguma situação. É por isso que ser "broxa" (ou seja, ser um homem que não consegue penetrar) é tão vexaminoso. A fixação masculina pelo tamanho do falo está intimamente associada à idéia de que viola-se mais e mais profundamente com um pau maior. Quem tem um pau maior tem mais autoridade simbólica, maior poder invasor ao penetrar.

E daí surgem expressões como "colocar o pau na mesa" para expressar a idéia de que vamos agir com autoridade. Ninguém gostaria de colocar um bigulim minúsculo na mesa para resolver problemas. A idéia escondida da frase é que "quanto maior for o pau" maior será a autoridade de quem o coloca sobre a mesa, à mostra.

Se você pensar bem, dá pra entender a lógica daquele tarado desprezível clássico, que sai mostrando o pau para mocinhas que estão voltando da igreja. Ele pretende impôr alguma espécie de trauma, alguma repercussão mental conturbadora. É como se dissesse: "Estou na iminência de usar isto em você, garotinha". Pro que ele quer, geralmente funciona: sua atitude molesta ou agride em níves subconscientes a observadora. Ela vive aquela violação em algum lugar dentro dela mesma. E ele sabe.

Eu não estou afirmando que todo exibicionista aja pelo mesmo mecanismo mental, evidentemente. Mas o tarado que resolve mostrar-se sem o consentimento de sua interlocutora certamente tem prazer no elo íntimo que estabelece com suas vítimas, mesmo sem as tocar.

A associação do falo à autoridade é bastante conhecida e discutida. Trata-se de uma carga cultural ancestral e (tanto quanto o próprio patriarcalismo o é) universal.

De acordo com os códigos subliminares desagradáveis e politicamente incorretos, uma mulher fodida é uma mulher conquistada, rendida, violada. Foi imposta a ela uma intimidade sexual violadora, diante da qual ela é passiva. Ela recebeu sobre si o peso biológico e cultural de ter sido fodida, de ter sido gozada.

No caso da Dominação masculina, a compreensão perfeita da importância da penetração, dos significados ocultos em cada gesto simbólico do que lhe é feito, torna uma submissa religada aos aspectos sagrados do ato. A partir de uma aceitação sublime do que significa ser fodida, a submissa goza. Mais que isso, ela recebe essa autoridade sexual sobre si com redescoberta do que é ser penetrada.

Há uma religação com o sagrado: A partir de sua aceitação, rele-se seu próprio papel.

Abandonando qualquer postura revanchista ou de negação desta carga cultural ela dá um passo de proximidade em relação a seu violador. Há possivelmente muito mais paz para essas mulheres do que para a maioria, em que pese meu respeito a todas as vivências.

Ocorre uma resiginificação do que é ser fodida. Ser fodida é pertencer a Ele. É ser desejada a ponto de que isso aconteça, através do cultivo de seus méritos. Ser fodida pelo Dono significa ser puta, mas a puta Dele. É ser especial e preciosa para alguém. Sempre que este ritual entre os dois não estiver sintonizado, ela saberá que há algo errado.

É como um ritual, só que de libertação.

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