sábado, 28 de fevereiro de 2009

Liberdade de expressão submissa.

Uma vez decidida a trilhar voluntariamente um caminho de submissão uma mulher deve procurar aperfeiçoar-se a partir dos referenciais de seu Dono. Esse processo inclui aprendizado e adestramento, palavras que sempre usamos. A riqueza da interação da submissa é que vai gerar o resultado que se pretende "ensinar" ou "adestrar". Naturalmente não é apenas com seu Dono que a submissa aprende, nessa jornada. Ela deveria ler e fazer alguns amigos pra ter percepções referenciais de boas relações de submissão. Pra crescer na sua submissão. Pra entender mais e servir melhor, inclusive.
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O problema é que cada relação é de um jeito e cada pessoa é única, processos ricos e essa coisa toda. Mas gostaria de levantar como reflexão o recorte "Doms que não permitem que suas submissas tenham contato externo ou interação com discussões de opinião".
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Vejo muitas vezes confundida nossa autoridade Dominadora com supressão do pensamento e cassassão do direito da submissa a ser entendida como pessoa que também está em uma jornada de busca voluntária por felicidade. Ou seja, como um ser humano que tem suas demandas, mesmo que uma delas seja servir. Ou ainda; ela não se anula como ser humano por ter a demanda de servidão voluntária dentro de si.
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Durante o ano em que foi minha a natasha conversava e opinava no meio BDSMer livremente. Os resultados que colhi disso sempre foram os melhores possíveis e sempre tive gratas surpresas e grande orgulho do seu comportamento. Ela cresceu como submissa nessas interações, fez amizades, discutiu. E nunca me envergonhou ou me diminuiu em nada por isso. É evidente que respeito a maneira como os outros vivem e o tipo de limitações que impõem, dentro da negociação. Estou apenas dividindo que sempre foi a política que adotei e sempre foi ótimo.
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Isso é apenas um depoimento de que minha severidade nunca foi alterada pela suposta liberalidade de que minha sub tinha liberdade de dizer o que pensava abertamente e sem censura.
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Se um dia ela se comportasse mal eu lhe daria justo, merecido e justificado castigo. E ela ia entender porque é uma boa menina. Mas nunca aconteceu. Com isso eu tive ainda mais orgulho da minha obediente cadela. Pretendo ter orgulho de ver uma submissa minha discutindo abertamente com inteligência uma série de questões em comunidades, como prevejo ser bastante provável que aconteça. A sub é o espelho do Dono, costumamos dizer. Gosto que uma submissa saiba que é depositária da confiança de que não me envergonhará. Que ela tenha essa responsabilidade. A liberdade e o peso dessa liberdade.
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Você pode brincar de afogar sua putinha na privada da sua casa, mas você não pode deixar de entendê-la como um ser com uma busca legítima. O que há é uma relação entre dois seres humanos e entender que o outro tem demandas, expressões e expectativas é ser realista e justo. Isto posto o pau come.
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E se se comportar mal leva castigo brabo.
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Particularmente entendo como mau comportamento ser desatenta em relação ao empoderamento do Dono em qualquer interação com o meio, por exemplo. Deve falar livremente sem causar vergonha ao Dono, ser educada e gentil em contraponto a submissas que arrumam encrenca e fofocam. Manter um comportamento geral virtuoso, honrado, dirigido ao Dono no sentimento e intenção verdadeiras. Se eu tiver isto tudo, que sentido faria tentar controlar as interações e percepções que a submissa tem do meio? O direito do castigo é ainda a cereja do bolo das minhas garantias. E das suas, como Dom.
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Sendo assim é ótimo que ela interaja e opine, aprendendo e desenvolvendo sua submissão. Seu auto-conhecimento, sua busca de referenciais que a ajudem a servir melhor e melhor. É um orgulho ser servido fielmente por uma fêmea que seja exuberante na sua inteligência e ainda assim um brinquedinho de foder na sua mão mais forte.
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Isto é apenas para fazer pensar em relação a limitação de opiniões fora de sua relação bilateral com o Dono a que vejo honrados Doms submetendo suas peças. Outro bom argumento pra fazer pensar é senso comunitário: com a participação restringida todo meio BDSMer se empobrece. E o ponto é que rigidez proposta na relação de transferência de poder não é afetada porque você deixa sua sub participar e aprender mais. Pra te servir melhor.
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A restrição do direito da fala é um poderoso recurso de nossas práticas sexuais. A gente se diverte amordaçando uma mocinha, for sure. Mas isso tem mesmo a ver com fazer lobotomia em nossas submissas?
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Isso não envia um sinal a elas de que não confiamos de que são capazes de nos surpreender ou orgulhar com um comportamento exemplar?
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As melhores demonstrações de submissão que recebo são as voluntárias, que partem de alguma iniciativa livre da submissa. Esse é um bom exemplo de como liberdade concedida reforça a autoridade inicial concessora da liberdade.
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Deixem as borboletas voarem, rapaziada. Se fizeram um bom trabalho vocês vão ter orgulho do resultado.
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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

É Capuzinho Vermelho. Ela não usa chapéu.

Chapeuzinho Vermelho: Uma linguagem sedutora do jogo
Calina M. Fujimura (UERJ)

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"Este trabalho tem como objetivo estabelecer uma analogia entre a construção da narrativa do conto “Chapeuzinho Vermelho” e o jogo, nas versões dos camponeses, de Charles Perrault e dos Irmãos Grimm para o conto. Tal estudo, primeiramente, ganhará forma por meio de possíveis relações a serem traçadas entre o que é caracterizador à prática lúdica e ao movimento sedutor das personagens, visíveis no jogo simbólico e no grande embate que, no texto, tomará a forma de um diálogo.
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Conforme a noção de símbolo [1], estes se constituem em imagens pictóricas ou em palavras com a capacidade de substituir idéias, um sentimento ou um pensamento. Com o intuito de basear o estudo simbólico do conto “Chapeuzinho Vermelho”, será utilizado o Dicionário de símbolos, juntamente com as interpretações psicanalíticas de Erich Fromm e Bruno Bettelheim, para o conto em questão. (...)
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*[1] De acordo com o estudo de Jung sobre as raízes da simbologia presente nos contos de fadas e mitos, Nelly Novaes Coelho, em O conto de fadas, refere-se à existência de um “fundo psíquico comum e inconsciente” gerador de arquétipos, os quais dão origem a “impulsos psíquicos comuns a todos os homens”, ou a “imagens” capazes de tomar a forma semelhante de “emoções, fantasias, medos etc.” criadas por “fenômenos da natureza ou por experiências existenciais decisivas ( com a mãe, com as relações homem-mulher, com o confronto de forças desiguais ou injustiça etc.)”. (COELHO, 2003:116)*
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Nas três versões estudadas pode ser vista a figura do Lobo como metáfora do homem sedutor, de forma velada ou direta. Porém, o que de imediato não se pode perceber é o conteúdo simbólico contido em tal personagem. Recorrendo ao Dicionário de símbolos, diversos significados do símbolo “lobo” são encontrados. No entanto, um chama atenção para o dado contexto sedutor – o “lobo” como um símbolo devorador. O “lobo”, a partir desta interpretação, pode ser comparado a Cronos, Deus grego que devorava seus filhos. Cronos, assim, passa a ser confundido com Chronos – o tempo – mas um tempo que devora a juventude de homens e objetos. Fromm, em seu estudo A linguagem esquecida, ressalta a imagem devoradora do ato sexual tal qual Cronos devorava seus filhos e o tempo à vida, a relação sexual é encarada como o devorar da fêmea pelo macho. E é desta característica devoradora que se poderá compreender o significado simbólico do embate entre Chapeuzinho Vermelho e o Lobo.
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Relatada sua possível simbologia, pode-se agora entender quem é este jogador que deseja devorar. O Lobo de “Chapeuzinho Vermelho” é um jogador que não dá pistas das suas jogadas, como faz Chapeuzinho, ao contrário, ele as esconde atrás de sua falsa cordialidade. O Lobo pode ser representado pelo jogador trapaceador visto no texto de Duflo, malicioso, ele é o ator que fala e seduz detrás da máscara. Estas características do perfil do jogador ficam claras nas passagens em que o Lobo procura tirar vantagem, seja no caminho que leva à casa da avó, por suas palavras sedutoras que a convidam a deixar de ser tão séria, ou ao se disfarçar de avó para enganar Chapeuzinho.
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Se este jogador se oculta atrás da imagem de um Lobo cortês, porém faminto, o seu prato principal constará, justamente, da “inocente” menina, conhecida nas versões de Charles Perrault e na dos Irmãos Grimm como Chapeuzinho Vermelho. Perrault é quem dá à versão dos camponeses este nome à menina que passa a ser também título desta história. Este insere a figura do capuz vermelho que origina o nome “Chapeuzinho Vermelho” tão familiar aos leitores, e que torna mais sugestivas as intenções da menina. Nome que os Grimm mantém em sua narrativa, com um ligeiro acréscimo do chapéu ser de veludo.
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O capuz vermelho que acompanha a menina nas versões de Perrault e na dos Grimm, surge como símbolo da cor do sangue, da menstruação, cor da alma, da libido e do coração. A partir disto, tem-se a visão da relação simbólica entre o Lobo e Chapeuzinho. Ao ser observada a estreita ligação entre “lobo” e Chronos, pode-se entender que talvez este Lobo do conto seja o tempo devorador a destruir a fase menina de Chapeuzinho, já que nela se desperta a sua nova condição marcada pela menstruação e o desabrochar da libido; a juventude e os desejos amorosos passam a envolvê-la nesta transformação. Para Fromm, o simbolismo do capuz vermelho é muito sugestivo como observado em suas palavras: “O ‘chapeuzinho vermelho de veludo’ é um símbolo de menstruação. A menina de cujas aventuras nos falam tornou-se adulta e vê-se agora defrontada com o problema do sexo.” (FROMM, 1973: 175)
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Neste contexto do capuz vermelho, Bruno Bettelheim traz uma visão sobre a função da avó de Chapeuzinho, que à primeira vista, aparece sem muita importância dentro da narrativa. Para Bettelheim, a avó de Chapeuzinho transmite de forma inconsciente todo o seu conhecimento e experiência sexual na forma do capuz vermelho dado por ela, pois a cor deste, revela como significado simbólico oculto a pulsão dos impulsos sexuais presentes no ser humano. Como diz Bettelheim: (...) é fatal para a jovem a mulher mais velha abdicar de seus próprios atrativos para os homens e transferi-los para a filha, dando-lhe uma capa vermelha tão atraente.
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Em “Chapeuzinho Vermelho”, tanto no título como no nome da menina, enfatiza-se a cor vermelha, que ela usa declaradamente. O vermelho é a cor que significa as emoções violentas, incluindo as sexuais. O capuz de veludo vermelho que a avó dá para Chapeuzinho pode então ser encarado como o símbolo de uma transferência prematura da atração sexual (...). (BETTELHEIM, 2004: 209)
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Na versão dos camponeses a questão do capuz vermelho não é citada, encontra-se apenas a figura de uma menina que deixa sua casa para encontrar a avó. Então como a transferência da sexualidade é feita nesta história? Ao que tudo indica é também através da avó. Como o Lobo ao chegar à casa da avó não a devora e sim a mata, despejando seu sangue em uma garrafa e cortando seu corpo em fatias, quando Chapeuzinho finalmente chega ao seu destino já encontra o Lobo disfarçado de sua avó, recomendando que ela se servisse da carne e do vinho que estavam na copa. Servindo-se da carne e do vinho, um gato lá presente sentencia: “Comer da carne e beber do sangue de sua avó!” (DARNTON, 2001: 21e 22)
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Partindo do significado simbólico do gato como animal que carrega a sagacidade, engenhosidade e portador do dom da clarividência, tem-se adiantado o futuro de Chapeuzinho, nas palavras do gato, como “menina perdida”. Comendo as partes do corpo (a carne) e bebendo do sangue (o vinho) da avó, os símbolos ocultos de transferência de sexualidade passam a conotar a fragilidade da carne perante o pecado, dentre eles o impulso sexual incontrolável, e se vê no vinho um símbolo do conhecimento e de iniciação. Assim o ato canibal de Chapeuzinho é entendido como o tomar do conhecimento da avó, para iniciação sexual. Não se tem, desta forma, a passagem da sexualidade por meio do capuz vermelho, mas se pode tentar encontrá-la de forma encoberta nos seus símbolos.
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Para finalmente descobrir-se o perfil desta jogadora, deve-se primeiro observar as pistas deixadas por Chapeuzinho a fim de se entender o jogo velado desta “inocente” jogadora.
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Nas versões de Perrault e na dos Irmãos Grimm, Chapeuzinho ao indicar o caminho para casa de sua avó, praticamente se entrega ao Lobo. O Lobo que se apresenta na forma de um jogador astuto, vale-se das suas artimanhas para tomar o caminho mais curto ou adquirir certa vantagem na distração de Chapeuzinho. Será neste caminhar pela “estrada afora” que esta irá dar as pistas que se reunirão ao capuz vermelho para formar a grande interpretação simbólica do prenúncio do final deste jogo.
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Se a sexualidade é passada pela avó à Chapeuzinho através do capuz vermelho, a presença do desejo de deixar-se envolver por esse “lobo” pode também ser vista em alguns signos espalhados pelo breve período de distração pelo qual passa a personagem. Em Perrault, Chapeuzinho distrai-se colhendo as avelãs no bosque, símbolo da fertilidade e da luxúria, correndo atrás de borboletas, símbolo de metamorfose, e colhendo flores, símbolo da passividade. Conhecidos os símbolos, o entendimento deste percurso de passividade pode ser compreendido.
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O movimento passivo do jogar de Chapeuzinho só se mostra ao se perceber que ela se deixa seduzir pelas palavras do Lobo, tomando o caminho mais longo até à casa da avó por sugestão do Lobo. Suas intenções surgem ocultas detrás de símbolos como as avelãs que passam a reiterar a idéia do vermelho menstruação como sinal biológico de fertilidade, é a menina transformando-se em mulher em um processo de metamorfose, tal qual sofrem as borboletas.
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A mesma compreensão simbólica pode ser encontrada na história dos Grimm, em que este Lobo malicioso a convida a deixar de ser tão séria, e que Chapeuzinho, de maneira semelhante, aceita a proposta sem se lembrar da advertência dada por sua mãe, na qual pedia que Chapeuzinho andasse direito pelo caminho para não tropeçar e, deste modo, não cair quebrando a garrafa de vinho que levava para sua avó.
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Para Fromm, a advertência consiste em alertar a menina da possível perda de sua pureza, ao passo que quebrando a garrafa (símbolo da virgindade), e se desviando do caminho, Chapeuzinho poderia assim descobrir o que realmente há nos “cantos”, que não deveria ser revelado.
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Duflo, em seu trabalho, descreve a freqüência com que o jogo era praticado, referia-se a “uma sociedade do jogo”, em que este era muito comum apesar das proibições. No entanto, como diz Duflo “todo lugar onde o jogo é proibido, essa proibição é transgredida” (DUFLO, 1999: 47), consistindo em um instigador e gerador de um aumento no prazer dos jogadores, tal qual Chapeuzinho que burla a advertência dada e as regras de menina pura para ir ao encontro do Lobo. Mesmo tendo consciência do dever de visitar sua avó doente, Chapeuzinho aceita veladamente o jogo da figura sedutora masculina, para aos poucos deixar ser devorada por meio de uma simbologia que sussurra o aflorar do desejo sexual. Ter-se-á, desta forma, o grande embate agônico entre estes jogadores, que em um jogo de perguntas e respostas ditam o final desta partida.
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De acordo com Iser, em o “Jogo do texto”, tem-se a adoção do sentido figurativo do significante em detrimento do sentido real deste, com o intuito de gerar a característica ficcional do texto, o como se intencionando dizer o que foi dito. “Em Chapeuzinho Vermelho”, fica claro o jogo com a palavra a fim de fazê-la ter um significado primeiro superficial, no qual, no caso do Lobo, pode remeter, por exemplo, a uma perseguição, a uma caça, um animal atrás de sua presa – Chapeuzinho. Este Lobo, assim como os seus outros da selva, antes, rondam sua vítima, armam o seu bote para apanhá-la desprevenida, e cruelmente conseguem devorar rapidamente sua refeição. Mas um Lobo que se veste de avó, um Lobo conversando com Chapeuzinho, algo está estranho.
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Ao longo de todas as narrativas do conto, o jogo com o “significante fraturado”, ao qual se refere Iser, toma forma na figura do Lobo. O protótipo do Lobo é interessante à história por ele ser um devorador da natureza, um elemento conhecido dentro da vida dos camponeses da França do século XVIII. Como diz Iser: “O significante, portanto, denota algo mas, ao mesmo tempo, nega seu uso denotativo, sem que abandone o que designava na primeira instância”. (ISER, 1979: 110), assim como nas três versões trabalhadas, a dualidade do Lobo como lobo e deste como homem é de suma importância para a aproximação do homem com seu lado sexual “devorador” e “selvagem”. Como bem ressalta Vilém Flusser, em Da religiosidade, “(...) embora tenham os lenhadores exterminado o lobo, no curso dos últimos dez mil anos, nada tenha perdido o Lobo do seu terror primitivo” (FLUSSER, 2002: 165), de animal predador e da imagem sedutora apresentada ao longo do texto.
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Trilhando as pistas simbólicas deixadas por Chapeuzinho durante o seu jogo, o momento do duelo final é chegado; Lobo e Chapeuzinho encontram-se juntos em um mesmo tabuleiro, com táticas diferentes, mas com o fim já esperado.
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Em meio ao espanto, a “inocente” menina joga com suas constatações interessadas a respeito das diferenças que avista no corpo desta avó-lobo, no qual orelhas, olhos, mãos e boca se tornam tão grandes, e por fim vão moldando a forma de um corpo masculino bem mais imponente que o frágil porte da avó, aproximando, desta forma, as características do lobo as do homem. A versão dos camponeses traz além deste breve diálogo de reconhecimento do corpo masculino, uma prévia do que está por acontecer. Antes deste grande embate Chapeuzinho questiona ao Lobo o destino de suas roupas, e ao longo deste processo, o Lobo repete a mesma sentença: “– Jogue no fogo. Você não vai precisar mais dela.” (DARNTON, 2001: 21 e 22). O fogo como símbolo de iniciação, leva o leitor a entender o jogo do desejo masculino e a possível conseqüência das insinuações de Chapeuzinho.
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Assim, do lado inverso, o Lobo responde ao diálogo travado de uma maneira breve, seguindo os passos de sua oponente, e depois de respondida a finalidade daquela boca tão grande, não se tem mais respostas, pois neste momento, Chapeuzinho já tinha sido devorada. Em um diálogo que no nível do significante este denota a suposta morte de Chapeuzinho ao ser devorada pelo Lobo, dentro da idéia de “significante fraturado”, de Iser, este passa a carregar a concepção figurada do ato sexual.
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Dentro do diálogo travado entre Chapeuzinho e o Lobo, agon surge marcada fortemente como característica desta narrativa que estabelece sua moral através do castigo que Chapeuzinho sofre ao se descuidar “saindo do caminho” e sendo assim devorada. Segundo Iser, agon consiste em uma estratégia de jogo na qual o texto é centrado em normas e valores conflitivos, sendo que este debate busca envolver “uma decisão a ser tomada pelo leitor em relação a estes valores contrários, que se mostram internamente em colisão” (ISER, 1979: 113). O conflito entre norma e desejo aparecem como forma de reflexão ao leitor em “Chapeuzinho Vermelho”, a moral de não se desviar do caminho às meninas é clara no texto, assim como a punição de Chapeuzinho por sua escolha é dada quando o Lobo a devora, é um processo em que o leitor é levado a questionar-se, automaticamente, a respeito de suas decisões impulsivas e das ordens.
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A atração pela figura masculina e a curiosidade em conhecê-la impelem Chapeuzinho a aceitar a partida proposta pelo Lobo, mesmo sabendo que sua derrota seria necessária para sua vitória. O Lobo a devorou jogando de acordo com as cartas que ao longo do texto por ela foram dadas. O diálogo que antecede o final apenas representa o ápice destes elementos simbólicos que se sucederam na história, realmente, vê-se que o fim estava mesmo no começo, como disse Beckett. Pode-se dizer que tanto Chapeuzinho como o Lobo venceram a partida: uma foi devorada, tal qual tinha sugerido desejar, e o outro devorou, como ditava sua “fome”. Empatou."
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Moral da história: O caçador é a figura da culpa cristã. Além de ser crime ambiental atirar em lobos.
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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Desenhos bem animados.

Das expressões da arte erótica gosto, entre muitas coisas, dos desenhos. A grande sacada é falar de um tema adulto e para adultos, mas utilizando uma linguagem infantil. O quadrinho adulto é o subproduto maduro do que a geração do meu pai descobriu ainda jovem com Carlos Zéfiro.
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Existe muita coisa boa na arte erótica dos desenhos, muitos trabalhos de qualidade e grandes artistas. Mas hoje eu vou postar puro pornô de consumo japonês. Arte sem refinamento, pras massas punheteiras. É tão legal quanto.
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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Sobre Disciplina.


Quanto mais eu construo uma crença libertária compatível com minha sexualidade, mais severo me torno como Dono. Se todo desejo é uma perversão de um valor nobre, quanto mais liberto você é; mais perverso você será caso se permita.
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Nunca fui tão exigente em relação a disciplina como tenho sentido necessidade de ser. Comigo mesmo e em relação a qualquer pessoa com a qual venha a me relacionar. Isso é um sinal inegável de alguma espécie de procura fina, já não me servem as belezas indomadas, as que não se curvam. Eu só vejo riqueza no que posso investigar a meu modo. Decifrar e devorar. No que me é dado voluntariamente e com mansidão. Perdi o interesse em disputar palmo a palmo essas confianças; ou elas são dadas ou não são. No fundo é assim que funciona.
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Uma vez entendidos os limites de cada um não pode haver fricção acerca dos papéis; porque essas disputas destroém a beleza da cooperação todinha. Quem dá poder a seu Dono é você, no final das contas.
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As pessoas acham que pervertidos são caras que se excitam com qualquer coisa. Sacanagem com os pervertidos. Na verdade é o contrário, pervertidos precisam de estímulos tão específicos e incomuns para se excitarem que sua sexualidade é muito menos abrangente e muito mais profunda que a de pessoas médias. Portanto a maneira de nos atingir tem que ser profunda, não generalizante. E assim, de nossa parte, respondemos com profundidade. E as coisas funcionam.
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Disciplina tem a ver com a profundidade da entrega. Com o sentido do ato de ver-se disciplinada, psicológica ou físicamente, muito mais do que com o ato físico propriamente. A disciplina é a prova de submissão voluntária.
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A aceitação da violação se materializa na disciplina. E a disciplina é a oportunidade da submissa demonstrar uma série de coisas a seu Dono; profundas, sobre o tamanho da sua entrega.
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Se há aceitação emocional da figura violadora pra além da aceitação sexual; isso é como dizer eu te amo na literatura do Marquês de Sade. A beleza disso é única e só quem já viveu momentos assim sabe.
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Disciplina é muito mais que obediência. E muito melhor.
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sábado, 14 de fevereiro de 2009

Alexandre.


Alexandre teve como herói Aquiles. Eles representam uma identidade masculina específica e esquecida.
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Dentro das imagens de poder do sagrado masculino eles são representantes de outro símbolo; um dos muitos arquétipos da nossa identidade ancestral. Tanto quanto Ricardo Coração de Leão significa um guerreiro da tradição e da liturgia do sagrado, o peregrino. Outro símbolo.
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A escolha dos heróis é decisiva, pra qualquer um. De minha parte, eu me filio a Aquiles e Alexandre como messias de uma poderosa identidade masculina, um arquétipo ancestral que ronda as gerações.
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É como se os heróis que escolhemos como referencial nos soprassem, de seus túmulos, como gostariam que nos comportássemos para sermos dignos de sua benção. Que valores devemos mais ainda que "viver"; buscar "ser" em nossa existência. Nossos heróis são nossos exemplos em formato de arquétipo.
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Quando você se filia a um herói você indica que os valores gerais dele são os que você admira e tem como meta.
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Por Carlos Brazil:
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Um homem que viveu há mais de 2.300 anos e ainda desperta grande interesse. Um personagem controverso, do qual há opiniões das mais diversas, desde aqueles que o consideram um herói até os que o qualificam como figura desumana. Um conquistador que construiu em pouco mais de uma década um dos maiores impérios da História da humanidade. Este é Alexandre, O Grande - filho do rei da Macedônia, Felipe II -, que ao assumir o trono de seu país iniciou uma campanha de expansão de seus limites territoriais nunca antes vista pelo homem.
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Ele não chegou a completar 33 anos de idade, mas deixou um legado considerado de grande relevância para a formação do que hoje é conhecida como cultura ocidental. Alexandre - considerado um gênio militar à frente de seus exércitos - extendeu os domínios da Macedônia (à época, umas das sociedades que compunham a comunidade helenística, na Grécia antiga) desde o Mar Egeu, na Europa, até o norte da Índia (Ásia). Para chegar até lá, passou pelo Egito (África), Turquia, Afeganistão e Paquistão (Ásia).
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Mas, afinal, qual é a real relevância da figura de Alexandre para a História da humanidade?
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"Alexandre é um nome importante para a definição mesmo do que é o Ocidente. É ele que vai alargar os limites do que até então poderia ser reconhecido como sendo uma possível fronteira do que entendemos hoje por Ocidente, que era a Grécia clássica das cidades-estados, no Mediterrâneo Ocidental", afirma o professor José Otávio Nogueira Guimarães, do Departamento de História do Instituto de Ciências Humanas da UnB (Universidade de Brasília).
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"Ele era realmente uma figura diferenciada, e creio que nenhum líder na História da humanidade tenha uma trajetória tão fulgurante e conseguido em tão pouco tempo realizar tanta coisa", diz, por seu lado, o professor de História Antiga José Luciano Cerqueira, coordenador do curso de graduação em História da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
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Alexandre surge na História em um momento de crise da cultura helenística, com a decadência das chamadas cidades-estados da Grécia Antiga após a Guerra do Peloponeso, que envolveu as duas mais destacadas cidades de então: Atenas e Esparta.
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"A época de Alexandre, que é o século IV a.C. - ele nasceu em 356 a.C., Felipe, o pai dele, assumiu o trono da Macedônia em 359 a.C.-, é marcante. Ele surge num momento em que o mundo grego está passando por uma crise muito grande. O modelo grego político por excelência era o da polis, ou cidade-estado. Mas uma guerra entre as duas principais polis gregas - que eram Atenas e Esparta, e essa foi a Guerra do Peloponeso, que durou 27 anos - desgastou o modelo ao extremo. Foi uma guerra que implicou em traições de parte a parte, saques... quase todos os valores gregos foram abandonados. Então, essa guerra desgastou tanto o modelo de cidade aristocrática, representado por Esparta, quanto o modelo de cidade democrática, representado por Atenas", explica Cerqueira.

Transição
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Desta forma, Alexandre se insere em um momento de transição, e sua atuação será determinante para a formatação do período que vem a seguir de sua curta trajetória de líder que morre muito jovem.
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"O que o Alexandre vai fazer com suas conquistas - que em um primeiro momento se estendem sobretudo em direção do Oriente - é colocar essa Grécia clássica em contato com um mundo até então desconhecido e que vai permitir justamente esse processo de alargamento da noção de Ocidente no sentido de que esse Ocidente vai ser vitorioso militarmente, pelo menos com Alexandre, nesse processo de expansão das fronteiras do mundo helênico. Então, acho que Alexandre é, em grande parte, um dos responsáveis pelo fato de que o legado cultural grego tenha permanecido e tenha se consolidado durante esse momento", analisa o professor José Guimarães.
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A expansão promovida por Alexandre e seus exércitos em pouco mais de dez anos permitiu a propagação da cultura helenística para pontos jamais antes imaginados pelos homens de então. "Alexandre acelerou a helenização", diz Cerqueira.
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Outra marca desse grande conquistador era sua característica visionária. Ele enxergava mais longe e via oportunidades e perpectivas em lugares que, posteriormente, viriam a ser comprovados como estratégicos.
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É o caso das chamadas Alexandrias - estima-se que teriam sido fundadas 32 cidades com este nome - que, mesmo depois da morte de Alexandre, viriam a demonstrar grande vigor e tornar-se pólos culturais e econômicos de importância considerável.
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O principal exemplo foi a Alexandria erguida no Egito, ao largo do delta do rio Nilo. A cidade experimentou tal prosperidade que foi considerada uma das mais importantes da Antigüidade, com sua biblioteca, museu e o próprio Farol de Alexandria, uma das sete maravilhas da humanidade. Alguns estudiosos dizem que a cidade teria tido uma população de mais de 1 milhão de pessoas.
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"O olho dele (Alexandre) para escolher cidades é um dos aspectos importantes para a civilização ocidental. Essas várias Alexandrias seriam grandes centros de difusão do pensamento grego, helênico", indica o professor Cerqueira.
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Credita-se, também, a Alexandre a construção dos alicerces do que seria, posteriormente e por centenas de anos, o protótipo de modelo político hegemônico na humanidade. Primeiro, com o Império Romano, que sucedeu o seu império algumas centenas de anos após sua morte. A seguir, o modelo de compreensão entre os povos, que acabou sendo marco da atuação de Alexandre em relação a seus conquistados e que viria a se refletir na cultura cristã, surgida pouco mais de 300 anos depois.
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"Vai ser uma coisa importante, porque esse é um momento em que a ordem das cidades-estados, que era extremamente rígida, institucional - quer dizer, se você nascesse cidadão você tinha direito a ter uma dignidade, a ser um animal racional, a participar do mundo político -, vai ser rompida. Passa-se a dizer em tom de igualdade: `você pode ser homem, mulher, escravo, desde que tenha contato com o ecúmeno, com a totalidade´. Isso está preparando o cristianismo: `somos todos irmãos desde que nascemos´. Isso é revolucionário para a época", avalia José Guimarães. "A inserção do homem no mundo se dá agora pela sua individualidade, porque ele é um particular na história, e não porque ele faz parte de uma casta, de uma rede."
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"Os gregos eram extremamente auto-referentes. Eles achavam que grego era uma coisa e bárbaro era outra. E todo mundo que não fosse grego era bárbaro. Portanto, seria inferior. Alexandre já tinha uma posição diferente. Ao longo da campanha dele, que vai realizar contra o Império Persa, vai deixando transparecer cada vez mais - até afirmar isso claramente nos seus últimos anos de vida - que para ele não há distinção entre bárbaros e não-bárbaros. A distinção é entre os homens bons e maus. Esse vai ser um traço de Alexandre", acrescenta Cerqueira. "Eu acho que o que tem de interessante em Alexandre, que vai preparar o terreno para uma posterior civilização como a romana, é justamente esse processo de absorção e sincretismo, que é uma das características principais do chamado período helenístico histórico, no qual se dá a ação de Alexandre, de absorção de cultura, elementos artísticos, religiosos e até mesmo sócio-políticos", conclui.
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Combatente tenaz
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Parte da tradição historiográfica construída sobre a figura de Alexandre a partir do século XIX valoriza muito as habilidades militares do personagem. Ele é reconhecido como um grande líder e até mesmo estudiosos da área de Administração citam suas estratégias de logísticas como exemplares para o sucesso de sua campanha militar.
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Para se ter uma idéia, ao invadirem a cidade de Tiro - uma ilha contígua à costa do Mediterrâneo que possuía um importante porto a serviço dos persas -, Alexandre e suas tropas promoveram um cerco de sete meses no qual construíram uma passagem entre o continente e a ilha para viabilizar o transporte de suas máquinas de guerra e das tropas.
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"Alexandre se destaca mais por ver mais longe e agir com muita rapidez. Ele sempre combateu com um número de tropas muito inferior que os inimigos. Mas se movia com muita rapidez, aparecia onde não se esperava, desnorteava, surpreendia os inimigos nas suas movimentações", lembra Cerqueira.
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Aventureiro
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O que chama também a atenção da pessoas na personalidade de Alexandre é o seu espírito conquistador e aventureiro. Ele percorreu mais de 6.500 quilômetros com suas tropas, atingindo localidades jamais antes vistas por seus pares helênicos.
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"Ele faz uma viagem de sete anos que parece mais expedição científica do que propriamente uma campanha militar. Alexandre chegou a correr riscos de vida várias vezes em combate, mas não havia nada assim tão importante em jogo. Ele pretendia continuar, e, se o tivesse feito, teria penetrado em território chinês. Mas seus soldados se revoltaram, terminaram não aguentando mais, e, no norte da Índia, na região que seria hoje o Paquistão, no rio Hindus, ele iniciou, a contragosto, a viagem de volta. Aí volta para a Babilônia (coração do antigo Império Persa conquistado por ele, onde hoje localiza-se o Iraque), onde vai viver muito pouco tempo. Dizem que tinha planos para conquistar a Arábia, para conquistar Roma, Cartago... ninguém sabe certamente quais eram os planos dele. Mas, aí, morreu com 33 anos incompletos", indica Cerqueira. "Foi tão longe com apenas 33 anos quanto ninguém antes tinha ido."

Figura controversa
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Se por um lado as características de liderança, genialidade militar, reconhecimento de outras culturas e capacidade de mobilização são marcas valorizadas na figura de Alexandre, outros traços de sua personalidade e algumas de suas atitudes deixaram manchas em sua reputação.
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Não é necessário ir muito longe para notar essas perspectivas negativas em relação à personalidade do conquistador. Uma canção de Zé Ramalho muito popular, Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer Sem Sentir Dor, composta sobre poema de Otacílio Batista, cita em determinado trecho: "Alexandre, figura desumana, fundador da famosa Alexandria...". Também em algumas localidades por onde Alexandre passou na Ásia e Oriente Médio, é mantida a tradição de que o conquistador seria o próprio diabo.
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Esses predicados negativos foram adquiridos diante de atitudes violentas e radicais. Um exemplo foi a destruição da cidade de Persépolis, na Pérsia, decidida por vingança contra uma invasão persa à Grécia 150 anos antes, ou então o extermínio da população masculina de Tebas (Grécia) após uma guarnição militar macedônica ter sido dizimada. As mulheres e crianças sobreviventes deste ataque foram vendidas no mercado de escravos.
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"Alexandre é uma das figuras mais polêmicas do universo historiográfico do século XIX para cá. Foram construídas várias personagens diferentes em torno dos testemunhos que chegaram até nós. Em torno de Alexandre, há todo um ciclo lendário", explica o professor José Guimarães.
"Ao lado do gesto bárbaro de quem mandou incendiar Persépolis, ele mandou prestar grandes homenagens ao rei (Dario, da Pérsia, grande oponente de Alexandre em sua busca pela conquista da Pérsia, que veio a ser assassinado por seus próprios aliados) e assumir o trono persa. Depois disso, iria se casar com uma das filhas de Dario e fez questão que o assassino fosse encontrado, punido e executado", pondera, por sua parte, Cerqueira.
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Sexualidade
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O filme Alexandre, do diretor Oliver Stone, chegou aos cinemas provocando grande polêmica, principalmente em razão de como é tratada a sexualidade de Alexandre, O Grande. Na superprodução, o conquistador mantém um relacionamento muito íntimo com seu grande amigo de infância, Hefestion, além de serem sugeridas outras experiências homosexuais, tanto de Alexandre quanto de companheiros seus.
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Mas o que há de verdade nessa abordagem sobre a eventual homossexualidade do personagem?
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"O que eu acho importante lembrar é que existe uma historicidade dessas fronteiras. O que é o que a gente chama hoje de másculo, não no sentido biológico, mas no sentido cultural, mudou. E na cultura grega clássica, havia um grande espaço para práticas homossexuais, que faziam parte do processo de iniciação guerreira de jovens. Jovens se iniciavam tendo relações sexuais com outros jovens soldados, jovens oblitas, ou jovens cavalheiros, o que era visto como algo completamente separado da vida conjugal e sexual que eles tinham nos seus casamentos. Não era algo que entrava em conflito ou em contraste com isso. Na cultura helênica, em geral, existiam certas práticas homossexuais, sobretudo pelo sexo masculino, que eram aceitas socialmente e institucionalmente. O cristianismo, bem mais tarde, é que vai moralizar um pouco e tentar excluir isso", lembra José Guimarães.
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Em busca do mito de inspiração de Alexandre
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Indícios históricos apontam um grande fascínio de Alexandre pelos mitos gregos, sendo Aquiles, o grande herói grego da Guerra de Tróia, um de seus modelos. (...)
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PS do Marte: O herói do evangélico é Jesus. Pra mim Jesus é Alexandre. Cada um elege seu messias, sua figura religiosa libertadora. É Aquiles no céu e Alexandre na terra. Com direito a oração e tudo.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

As asas.

"A gente sempre destrói aquilo que ama. Em campo aberto ou em uma emboscada. Alguns com a leveza do carinho, outros com a dureza da palavra. Os covardes destroem com um beijo, os valentes com uma espada."
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(Oscar Wilde)
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Quem quer que ame deve lidar com destruição e culpa.
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E saber quando já teve o suficiente disso.
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A hora de parar. A hora de tentar.
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A hora de esperar.
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Se você erra seu tempo, você se fode. E fode os outros.
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Cada um de nós morre inevitavelmente sozinho, mesmo no meio de uma multidão.
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Então cada um de nós precisa escolher. E assumir sua escolha.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Burros.

Minha homenagem aos Dominadores que "são machistas mesmo e foda-se".
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Porque usar sexo para legitimar sua pequeneza intelectual é fraqueza.
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Declarar-se machista é um ato infantil.
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É como chupar o próprio pau.
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Toda vez que você for bancar o machistinha você se lembra dessa imagem.
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Você não é o garanhão, amigo fodão.
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Apesar de você também usar ferraduras...
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Você é o Burro.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Ter vergonha da Dominação Masculina?


É sobre des-politização do sexo. E politização da discussão dos direitos.
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Vou tentar dar um exemplo perigoso. Quero que se lembrem que eu realmente faço a maior defesa das minorias, que estou do lado dos oprimidos, do ponto de vista da escolha política.
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Imagine uma mulher liberta, cabeça aberta e feliz, defensora dos direitos das minorias, talvez até uma militante.
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Só que daí ela (que não tem culpa de sua sexualidade; não escolheu); morre de tesão pela idéia do "negro rude". Ela gozando, como naquele filme, dizendo: Me fode, negro; me fode negro.
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Ela deveria se sentir mal? Ela não escolheu, mas a mera menção da idéia a desperta sexualmente e ela fica louca. O que fazer com uma contradição dessas?
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Não é claro que a tara dela se baseia em racismo, na idéia escrota de que negros são máquinas de sexo? De que são rudes, braçais, pouco educados?
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Sabemos como caras libertários que isso tudo é produto de uma sacanagem histórica contra os negros, que são oprimidos e sacaneados por ricos brancos por toda a história (e ainda hoje, chacinados em favelas, maioria carcerária, renda menor, o racismo tá aí). Sabemos que a loirinha sente tesão a partir da percepção do racismo a que foi exposta. É assim que essa mulher hipotética lida com o trauma do racismo.
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Como condenar a loirinha se ela nos afirma que tesão não se escolhe? Devemos imputar essa culpa racista a ela?
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Em sua defesa ela diria que no campo das relações e dos direitos ela não discrimina negros, que acredita em acabar com o racismo e o reconhece, que é parceira do movimento negro. Só que não tem jeito; ela vê um negro e fica molhada com a idéia de que ele vai pegar ela forte. A gente tem que tomar muito, muito cuidado pra não criminalizar as sexualidades. Já pensou o quanto essa mulher hipotética tende a sentir-se mal com seu sexo, culpada, deprimida?
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Talvez o que realmente importe pros negros em geral seja a discussão dos direitos muito mais do que como a loirinha faz na cama.
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O tesão dela adquiriu um componente do trauma que ela teve com o racismo, no choque com seu meio social. Ela não decidiu ser assim. Ficou impresso em sua sexualidade, só. Do mesmo jeito que ninguém escolhe se vai gostar de homem ou de mulher. Acontece.
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E porque eu estou dizendo isso tudo?
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Porque com a Dominação Masculina acontece a mesma coisa. Realizamos uma vivência quase maldita, socialmente. Contudo demandada pelos dois lados. E feliz.
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Então, assim como a loirinha não precisa ser racista pra viver a sua tara, a gente não precisa ser machista pra cultivar a nossa. Não precisamos ser machistas nos direitos, na sociedade; não precisamos chegar bêbados em casa e bater em nossas mulheres; não precisamos concordar que elas sejam vítimas de crimes sexuais.
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Não precisamos ser opressores, mesmo que esteja impresso em nós uma identidade sexual opressora.
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Sexo não é escolha política. Ser machista é.
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Eu nunca poderia escrever sem algum sarcasmo final, mas meus amigos Dons vão entender que sou um espírito brincalhão.
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As loirinhas com fixação em negros são os Dons, nesse texto. A tara maldita é patriarcal ao invés de racial. Uma boa analogia.
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E os Dons quando são bons são formais, ficam na deles. Mas há contradições e dores só nossas nesse negócio de ser Dom. A submissa tem seus desafios e suas fraquezas; nós não temos apenas os desafios da condução. Nós também temos fraquezas.
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É como se você tivesse que olhar pra dentro de você todo dia e se perguntar se sua sexualidade não é um absurdo e você tornou-se as coisas que pretende destruir.
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Por isso é que a gente tem que se aceitar; des-politizar o sexo. Tratar a liberdade pra além da anatomia, reconhecer a legitimidade do outro, seus traumas e construções de pessoalidade. Aceitar que no meio do horror social forja-se uma experiência pessoal de sexualidade e que é legítimo buscar ser feliz desde que você não agrida ninguém.
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Nem sempre essa tal liberdade é um valor burguês. Ela também é um pilar anarco fundamental. Qual nosso direito de patrulhar a escolha pessoal do outro, mesmo admitindo que ela pode ser "violência livremente elegida por nós"?

Parar de condenar as características que não são escolhidas: a raça ou a identidade sexual. E estar em níveis sm de necessidade de transferência de poder para obtenção de prazer constitui uma identidade sexual específica, segundo acredito. Punir alguém por sua identidade sexual é massacre emocional feito em nome de um falso bem. Despolitizar o sexo é crucial pra possibilitar realizações afetivas sinceras, onde cada um traga sua sexualidade honestamente para a relação, sem recalques.
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E politizar a escolha política. Ser implacável com o machismo. Lutar pela igualdade de direitos, lutar ao lado do que é certo.
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Mas não precisamos deixar de ser Leões. E Leões podem ser valiosos na luta pelos direitos das mulheres.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A Fiel.

Tive orgulho de você.
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Rute 1:16,17
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"...porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus;
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Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o SENHOR, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti."
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