domingo, 14 de dezembro de 2008

Quem tem boca vai a Roma.

Sexo oral e troca de poder.

Sabemos o quanto os Romanos nos influenciaram culturalmente até hoje. Nosso direito segue premissas construídas no antigo Império. Nossa língua é latina. Nosso próprio modelo de estado nacional se apropria de formulações greco-romanas. O transporte público, os estádios, a propagação do cristianismo e uma fatia gorda de nossa filosofia e de nossas artes vieram de lá.
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Não significa que observando a cidade eterna de antigamente possamos explicar a nós mesmos, exatamente. São apenas influências culturais. Apenas?
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Se há uma história militar, uma história da moda, uma história da arte; vejamos o que nos diz a história da sexualidade a respeito do sexo oral em Roma.
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Como em outros campos de atividades humanas, tenho certeza de que a influência de Roma em relação a nossa sexualidade foi mínima. Ridiculamente crucial, provavelmente.
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Separei alguns fragmentos de textos interessantes. Me permitam algumas ilustrações pornográficas para ilustrar o que digo, preste atenção aos símbolos de poder nessas imagens. Finja que eu não gosto de colocá-las aqui e que é um mero instrumento didático. Ou pode me acusar de descer ao nível da mera putaria se preferir. Também é verdade.

"The History of Fellatio"
By Annie Auguste

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(...) "Ancient Rome was a society of soldiers, of machos and rapists, and their perception of fellatio was interesting. The practice of fellatio in ancient Rome was perceived in terms of active and passive: The active one was in fact the person getting fellatio. In this case we're talking about the soldier, the virile male. The passive one -- usually a woman or a slave -- was the one giving fellatio or, to understand it more clearly, the one receiving the penis.
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Today, of course, it's the other way around. We perceive the one who's giving fellatio as the active one and the one receiving it as the passive one. But in Rome to give fellatio was a passive act, a submissive act. For example -- and this is very clear in Roman texts -- to punish a person who stole potatoes from his field, a Roman might oblige the person to give him fellatio. He might stand up, drop his pants and say, "Now you're going to kneel down and take it in your mouth." The one who was required to give fellatio was the passive one, the one who went against the valor of virility. The Roman perception is interesting.
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We [again] find some aspects of the Roman idea in certain cultures that are slowing disappearing, for example, in New Guinea. There are initiation rituals for young people that involve practicing fellatio on adults and ingesting the sperm -- sperm considered, of course, a vital, precious resource. These are not homosexual communities. On the contrary, the fellatio ritual is performed to make men acquire strong, active, macho values in a society where women are totally submissive and dominated.
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The Incas were the same. There are traces on their pottery that suggest that, like New Guinea, fellatio was a practice modeled on domination and power." (...)
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Exemplos arqueológicos?
Grafites em muros.
O que encontramos nas pixações de cidades do império Romano?
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Publicado em: Aspectos da cultura popular antiga: apresentação, tradução e discussão de alguns grafites pompeianos, Estudos de História (UNESP-Franca), 4, 2, 143-150 (publicado em 1999).
PEDRO PAULO A. FUNARI (UNICAMP)

1253 - IVSTVS LIIMNIO FIILATOREA
SAL

Tradução: Justo saúda ao felador Lêmnio.

Comentário: As inscrições do Vico della Fullonica apresentam diversos casos de referências sexuais (inscrições 1251 a 1264, cf). Fellator (aqui escrito com um só l) podia ser uma agressão verbal mais ou menos forte.

1284 - SIICVND
FIILLAT
Tradução: Segundo fela.

Comentário: O uso de fello (felar, fazer sexo oral com um homem) é muito comum em Pompéia (fellare, fellator, fellatrix somam 76 citações parietais). Usado para referir-se a um homem, como neste caso, é normalmente interpretado como um insulto.

1529 - IR IRRVMATOR
Tradução: Faço sexo oral. (apógrafo)

Comentário: A tradução não dá conta do sentido da expressão no original. O verbo irrumare, obsceno, significava "penetrar a boca", do ponto de vista do agente, por oposição a fellare, com o mesmo sentido mas do ponto de vista passivo (mentulam in os inserere). Portanto, irrumator refere-se ao homem que se vangloria de penetrar a boca de alguém, de maneira semelhante aos epítetos fututor e binetas ("possuidor"). A palavra deriva de ruma "teta" e o sentido original seria "por a teta dentro de algo".

E por fim, um trecho de um texto que é qualquer coisa próxima de uma revista boba dessas de dicas femininas. Eu achei interessante porque a articulista constrói uma interessante explicação falocêntrica para gostarmos tanto de sexo oral. Uma explicação afetiva, quase daquelas "de mulher pra mulher".

Nunca pensei que alguém que escreve nesse tipo de site ou revista pudesse ser sensato. É sempre bom demolir preconceitos nossos. Parece que ela entendeu alguma coisa importante e que sabe entregar a informação de maneira bem mais suave do que eu, mesmo que nossa atração não seja tão simples quanto ela pretende explicar. De qualquer forma, somada à imposição de poder, faz muito sentido. Lá vai:

Why Do Men Love it So Much?

By Lisa S. Lawless, Ph.D., C.E.O

(...) "Most men love oral sex performed on them for a few reasons. It of course feels really good, especially when it is done well. It makes them feel desired and of course it lets them know that you really appreciate their penis and them.

I think too often men are made to feel ridiculous for focusing so much attention on their penis whether it be size or it getting attention. I think what women forget is that we focus on things that could be perceived as being ridiculous too. Think about how much most women obsess about how big their butt looks in a certain dress or if the bra with underwire makes their breasts look good so that we can get that compliment when we walk out to go to a party. Underneath it all we all have the same need... to be appreciated." (...)

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